Um deputado apresenta na Câmara projeto para tornar o airbag obrigatório nos automóveis brasileiros. Quem lê a notícia logo imagina tratar-se de (finalmente) um político preocupado com a segurança do cidadão. Que analisou e comparou as estatísticas de acidentes urbanos e rodoviários no Brasil e em países do primeiro mundo, com as bolsas infláveis e sem elas.
Ninguém duvida de que esse equipamento reduz os danos de um acidente e salva vidas. Seu uso pode não ser obrigatório, mas é exigido nos principais mercados automobilísticos mundiais.
Entretanto, se o nobre deputado tivesse examinado o assunto com a atenção que merece, imaginaria outros projetos para corrigir graves distorções das leis relativas à segurança veicular.
Mas tudo leva a crer que são outros os motivos que movem o parlamentar nesse arroubo de preocupação com a integridade física de motorista e passageiros.
Ele não sabe (ou finge não saber) que a legislação brasileira do trânsito é tão capenga que se "esqueceu" de tornar obrigatório o apoio de cabeça no centro do banco traseiro. Ou seja, no caso de um impacto traseiro, quem está sentado nas extremidades tem sua coluna cervical protegida por lei. Já o passageiro do meio corre o risco de fraturá-la.
Outra falha imperdoável da legislação foi ter aberto exceção para crianças viajarem na frente, no caso da picape que não tem o banco traseiro. Ou seja, nos automóveis, a lei protege a criança, obrigando-a a sentar-se atrás. Mas quebra o galho, no caso da picape, e os meninos que se danem se houver um acidente.
A pergunta: se há falhas elementares na legislação que trata da segurança veicular, por que um deputado se interessa por um projeto tão sofisticado e que vai pesar tanto no bolso do brasileiro?
A resposta: alguém deve ter soprado no ouvido dele que airbag é importante, que segurança está na moda, é assunto que ganha espaço na mídia e vai ao encontro do interesse de poderosas multinacionais fornecedoras de componentes de automóveis.
Apoio de cabeça no centro do banco traseiro central nada representa em termos de faturamento, pois custa menos de R$ 100 a unidade. Só contribui para reduzir as estatísticas de brasileiros com o pescoço quebrado.
Mas, no caso do airbag, as contas resultam numa fileira de dígitos. É só multiplicar 2,5 milhões de automóveis produzidos em um ano por cerca de R$ 1,5 mil o par de airbags, para se chegar a um volume superior a R$ 3,7 bilhões pingando anualmente no caixa dos fabricantes do equipamento.
Ou seja, vale a pena acionar um lobby mais que poderoso em Brasília e fica fácil de entender o súbito interesse em proteger a vida do cidadão brasileiro...
Politicagem
Legislação de segurança veicular tem falhas elementares, mas deputado apresenta projeto sofisticado e que vai pesar no bolso do brasileiro