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Papo de Roda - O pato do flex

Como gato escaldado tem medo de água fria, o brasileiro só aceitou novamente a ideia do etanol quando chegou o motor que queima os dois combustíveis

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Quando foi lançado o motor flex (março de 2003), o empresário Sérgio (JAC) Habib, então presidente da Citroën do Brasil, disse que “carro flex é igual ao pato, que nada, anda e voa. Mas faz tudo malfeito...”.

As coisas não mudaram muito, pois ainda não se desenvolveu um automóvel específico para os dois combustíveis. O flex é, na verdade, um “quebra-galho”, um motor projetado para gasolina e adaptado para queimar também o etanol. As fábricas não investiriam pesado no desenvolvimento de um novo motor destinado exclusivamente ao mercado brasileiro, único a adotar essa solução.

O carro a etanol foi sucesso nas décadas de 1970 e 1980 e chegou a representar mais de 90% da nossa produção, mas entrou em decadência, no início dos anos 1990, porque faltou álcool nos postos e porque o carro “popular” (motor 1.0), um sucesso lançado em 1990, só queimava gasolina.

O motor flex é uma extraordinária solução mercadológica, pois queima derivado do petróleo ou da cana e não deixa o motorista dependente do humor dos usineiros. Ele só foi possível, tecnicamente, graças aos recursos da eletrônica, que “ajustam” o motor para queimar os dois combustíveis.

Mas um “ajuste”, pois o motor flex está longe de ser eficiente: a eletrônica varia alguns parâmetros de seu funcionamento, mas há limites físicos a serem vencidos em função das diferenças entre gasolina e álcool. A principal é a octanagem, que exigiria, por exemplo, turbinar o motor para assegurar melhor queima do etanol. Porém, o custo do equipamento inviabiliza a solução.

O flex avançou em nove anos, mas deixa os motoristas inconformados com o elevado consumo e o funcionamento irregular dos motores. Não param de chegar e-mails de leitores reclamando “batida de pino” (detonação) quando abastecem com gasolina. É uma combustão irregular que pode acabar destruindo o motor. As fábricas recomendam, cinicamente, que se abasteça com etanol para resolver o problema. A detonação realmente desaparece (graças à maior octanagem do etanol), mas não é exatamente o que se espera de um carro flex. Ele não teria que funcionar com qualquer dos dois combustíveis? E ainda tem um capítulo à parte, o do famigerado tanquinho de gasolina para a partida a frio. Afinal, que flex é esse?

O consumo é outra trapalhada, pois os automóveis flex rodam hoje menos quilômetros por litro de gasolina que modelos produzidos há mais de 20 anos. Marcha a ré do flex que deixa o brasileiro embasbacado diante de modernos compactos europeus que já quebraram a marca dos 20 km/l, inimaginável nos nossos modelos.

Enquanto o flex for um “quebra-galho”, o Sérgio Habib continua com a razão. Só que o verdadeiro pato, a rigor, é o consumidor brasileiro...