Os motores dos automóveis estão encolhendo. Mas apela-se para o inglês e se diz downsizing. É muito mais chique, embora signifique a mesma coisa.
A tendência de reduzir cilindrada começou quando subiu o preço da gasolina nos EUA, que acompanhou a variação da cotação do petróleo. O motorista norte-americano, que jamais tinha se preocupado com isso, sentiu a conta do posto pesar no bolso.
Depois a preocupação continuou, motivada pela questão ambiental: motor que bebe muito polui muito. O governo norte-americano, que tinha estabelecido metas de consumo para a indústria automobilística, passou a exigir também limites nas emissões de gases poluentes.
Foi o início da decadência dos motores enormes, beberrões e poluentes dos carrões made in USA. O %u201CV-oitão%u201D virou V6. E este foi reduzido para o de quatro cilindros. O norte-americano teve que se acostumar a dirigir motores menos dotados e poderosos.
No Brasil a conversa é outra, pois somos especialistas em carros compactos com motores de baixa cilindrada. Um bom legado da filosofia europeia adotada nos nossos automóveis. E, por isso, o brasileiro acha que pode assistir de palanque a essa metamorfose na terra do Tio Sam.
Ledo engano. Pode anotar aí que dentro de poucos anos a maioria dos nossos motores de quatro cilindros também estará encolhida. Já temos rodando aqui dois importados com motores de três cilindros, o smart (da Mercedes) e o novo Kia Picanto. A Ford anunciou, nos EUA, o desenvolvimento de um pequeno motor também tricilíndrico. Outra a aderir foi a Volkswagen: ela apresenta na semana que vem, no Salão de Frankfurt, seu pequeno Up!com propulsor de mesmo formato.
Com produção anunciada no Brasil dentro de dois a três anos, o subcompacto VW Up! mira certeiro um novo Fiat (substituto do Mille) que inaugura a fábrica a ser construída em Pernambuco. Pela linha de raciocínio, você concluiu que o pequeno italiano também terá motor de três cilindros.
Enganou-se de novo: terá apenas dois. Eu andei (na Itália) no recém-lançado Lancia Ypsilon, que tem esse motor, batizado de Twin Air: foi desenvolvido pela Fiat Powertrain, apenas 900 cm³ de cilindrada, entregando 65cv (aspirado) ou 85cv (com turbo). Um projeto tecnicamente muito sofisticado, que reduz consumo e emissões a níveis muito baixos. Usa tecnologia semelhante ao Multi Air (de quatro cilindros) que equipa o novo 500 e modelos da Alfa Romeo.
O Lancia com Twin Air tem um desempenho que surpreende, considerando ser ainda menor que os nossos 1.0. Só precisa rodar um pouco até se acostumar com o barulho de motocicleta...
Bem mais razoável para nós do que para os norte-americanos, que detestam acelerar um quatro cilindros. Dizem eles que dá a impressão de ter um motorzinho de dentista sob o capô...