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Papo de Roda - Mais um soluço...

Quando os pátios se entopem de automóveis, o governo reduz o IPI até que a situação se normalize, mas volta a subir o imposto até o próximo soluço

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Quando o setor automobilístico, além da excessiva tributação, sofre um impacto adicional, como, por exemplo, dificuldade de crédito, os pátios começam a se entupir de automóveis, as fábricas começam a dispensar funcionários ou a conceder férias coletivas. A crise sensibiliza o governo, que cede à pressão das montadoras e reduz o IPI. Quando a situação se normaliza, ele faz de conta que a tributação não é a maior do mundo e volta a subir o imposto até o próximo soluço. O último foi há alguns dias, quando o governo prorrogou por mais dois meses (quem acredita?) a redução do IPI.

Outra crise recente foi no fim de 2011, quando as fábricas se viram ameaçadas pelos preços e qualidade dos importados e pressionaram o governo a sobretaxar seu desembarque. Em vez de uma solução planejada, ouvindo as diversas partes envolvidas, um inoportuno e inconstitucional aumento do IPI sobre os automóveis importados. Uma medida absurda e protecionista que, além de nunca ter funcionado, ainda estabeleceu metas surrealistas e inexequíveis para a implantação de fábricas e índices de nacionalização dos produtos. A decisão caótica provocou reação negativa de várias multinacionais. E empresas que tinham decidido construir fábricas no Brasil suspenderam seus investimentos até um novo regime automotivo com política fiscal de incentivos à produção local.

A produção de etanol também sofre com a falta de planejamento e de nada adiantou o ex-presidente Lula ter dado volta ao mundo apregoando as vantagens do álcool. O país, que deveria, de acordo com seu discurso, se transformar no maior exportador de etanol do planeta, importa hoje álcool de milho dos EUA e gasolina dos mercados internacionais. A produção de etanol não cresce, pois sua demanda é limitada pelo preço da gasolina. Este é controlado artificialmente pelo governo, preocupado com o fantasma da inflação. Desestimulados, os usineiros não investem e a solução é reduzir a proporção de etanol na gasolina, de 25% para 20%. Quando sobe a produção do álcool, volta o percentual de 25%...

Entra governo, sai governo e nada se muda, nada se planeja, tudo se improvisa. O setor sucroalcooleiro se ressente da ausência de um plano estabelecido solidamente pelo governo e navega de acordo com as variações das cotações internacionais do açúcar, de crises financeiras e com as mudanças estratégicas do governo federal. E joga-se no lixo a chance de estabelecer uma matriz energética com menor dependência do petróleo e de gerar investimentos e empregos no campo para a produção de cana e biocombustíveis.

É assim que caminha nossa economia: sem planejamento, de crise em crise, apagando incêndios, cavando um buraco para tapar o outro.