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Papo de Roda - China 1 x 1 Brasil

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O governo apenas finge que se preocupa com a segurança. Prova disso é que a inspeção veicular ainda não saiu da gaveta desde 1998, quando foi tornada obrigatória pelo Código Brasileiro de Trânsito. E, ao contrário de países do Primeiro Mundo, não existe também a necessidade de submeter os modelos nacionais a testes de impacto e outros para comprovar sua segurança: basta a fábrica apresentar ao governo uma autocertificação de que eles se enquadram em todas as exigências legais a partir de testes realizados pelas próprias empresas.

A chegada de automóveis chineses no mercado brasileiro levantou a lebre da segurança, pois estão desembarcando aqui modelos reprovados em testes feitos por órgãos especializados europeus como o Euro NCAP. Já se percebe uma movimentação maior do setor para implantar órgãos especializados em testes veiculares de segurança. A partir de 2014 já será obrigatório em todos os nossos automóveis os dois componentes básicos de segurança ativa e passiva: freios com ABS e airbags.

Agora, também graças aos chineses, o governo brasileiro resolveu se preocupar para valer com a qualidade das peças comercializadas n o mercado de reposição. O Inmetro decidiu, apenas há dois anos, estabelecer as primeiras decisões de regulamentar componentes de segurança. Um processo em andamento e que ainda não proibiu de fato a venda de nenhuma peça de reposição.

Por enquanto, quem vai às compras nas lojas de autopeças corre riscos de toda sorte, pois não há exigências mínimas de qualidade em componentes diretamente ligados à segurança do automóvel. Item fundamental como fluido de freio pode ser fabricado num fundo de quintal (colorindo álcool com anilina) e comercializado livremente no mercado. Como ele não resiste a elevadas temperaturas sem ferver, o carro ficará sem freios ao descer uma estrada íngreme, que exija muito do sistema. Amortecedores "recondicionados" são oferecidos por oficinas e lojas. Rodas de liga-leve %u201Crecuperadas%u201D são vendidas livremente apesar do elevado risco de porosidades e trincas internas. Um verdadeiro salve-se quem puder, e o consumidor só se sente protegido ao comprar na concessionária, pois a qualidade é garantida pelo fabricante, ou na loja independente de uma marca conhecida internacionalmente.

Não deixa de ser tragicômica a declaração de um diretor do Inmetro ao explicar o "cerco" às autopeças e pneus de procedência chinesa: "Está havendo uma entrada muito grande de autopeças no Brasil de origem duvidosa, de má qualidade e que oferecem risco ao cidadão".

Ora, se as chinesas entram, é porque não existe uma legislação específica para o setor. Assim como as asiáticas, muitas das peças brasileiras são também de "origem duvidosa e de má qualidade". Exatamente ao contrário dos mercados de reposição do Primeiro Mundo, onde nem se imagina comercializar um componente que não tenha sido testado e aprovado por um órgão homologado pelo governo. É por isso que são tão raras as autopeças chinesas no mercado europeu. E as brasileiras idem.