Dono de carro flex reclama, e com razão: o carro bebe muito, e, mesmo com os modernos sistemas de injeção, os modelos atuais não são significativamente mais eficientes do que os de quinze ou vinte anos atrás. Alguns bebem até mais que os antigos. O custo para desenvolver um novo motor é o mesmo do projeto de um novo automóvel, o que explica a presença de motores obsoletos, de baixa potência e elevado consumo mesmo em modelos nacionais mais modernos.
O governo brasileiro jamais estabeleceu limites de consumo nem incentivou o desenvolvimento de motores mais eficientes, provocando defasagem entre os propulsores europeus e os nossos. O novo regime automotivo, que está para ser anunciado, pelo menos lembrou de tocar nessa ferida ao exigir limite máximo de emissões de 135 gramas de CO2 por quilômetro, em média, a partir de 2017. Consumo e emissões andam de mãos dadas, e por isso as fábricas instaladas (e a se instalar) no Brasil terão que investir em motores mais eficientes para fugir de impostos mais elevados.
Nos mercados de primeiro mundo, as exigências de eficiência e de redução das emissões de motores são ainda maiores. Recentemente, o governo norte-americano estabeleceu metas para reduzir o consumo atual pela metade até 2025, independentemente do tipo de motor utilizado: de petróleo ou biocombustível, híbrido ou elétrico. Os fabricantes, para se adequarem a esses valores, terão necessariamente que recorrer a novas tecnologias. Na Europa, automóvel que emite até 130g de CO2 por quilômetro paga menos imposto. Acima desse valor, paga mais. Em países asiáticos, as exigências são diferentes, mas os governos cada vez apertam mais o cerco.
Motores de dois e três cilindros já equipam vários modelos compactos em outros países, mas só agora, com o Hyundai HB 20, o tricilíndrico chega ao Brasil. Nossas grandes montadoras já lançaram esses motores em outros mercados, mas não os adotaram ainda nos modelos nacionais.
O Brasil está atrasado nessa lição de casa e as fábricas brigaram muito com o governo para escapar de regras mais rígidas. Apelaram até para o fato de nossos motores serem flex e a emissão de gases com o etanol ser quase nula (considerado todo o ciclo, pois a cana absorve CO2 da atmosfera durante seu crescimento).
Além de motores, a eficiência dos automóveis modernos é obtida também com redução de peso, materiais mais leves, transmissões mais eficientes e doses mais generosas de gerenciamento eletrônico. Mas nada disso se vê nem se verá a curto prazo no Brasil pois a preocupação do governo é preservar empregos e dificultar importações. Uma proteção que sempre resultou em atraso tecnológico e custos mais elevados. Em outras palavras, uma política perfeita para afastar o país do cenário internacional e dificultar a exportação de nossos automóveis.