O brasileiro está migrando do carro 'popular' (motor 1.0) para modelos com motores de maior cilindrada. Nenhuma montadora teve a mesma coragem da Peugeot, que simplesmente eliminou de sua gama o motor 1.0, substituindo-o pelo 1.4.
Aliás, o motor 1.4 vem se revelando o principal substituto do 1.0 e já está presente nos compactos da Peugeot, Fiat e GM. Ford e Volkswagen já estão prontas para oferecê-lo nos próximos meses.
Por que o carro com motor 1.0 se mantém teimosamente no mercado brasileiro, obrigando os engenheiros das montadoras a fazerem das tripas coração para extrair o máximo de potência, sem prejudicar consumo nem durabilidade? E o que leva o consumidor a adquirir um carro que anda se arrastando pelas estradas, se estiver com cinco pessoas a bordo e porta-malas carregado?
Toda essa aberração é provocada pela diferença de quatro pontos percentuais no IPI, o imposto cobrado pelo governo federal às montadoras. Na verdade, o custo para produzir um motor 1.0 ou 1.4 é praticamente o mesmo. Mas o imposto reduzido (de 13% para 9%) torna o carro 'popular' mais barato que o de cilindrada superior.
Esta classificação tributária estimulou nossas montadoras a projetar os mais potentes motores 1.0 do mundo: pode procurar na ficha técnica de carros europeus e japoneses que você não encontra motor de um litro de cilindrada com potência superior a 70 cv, como no Brasil.
E o que é pior: quando carregado, o automóvel com motor 1.0 obriga o motorista a apertar tanto o pé na acelerador que seu consumo acaba sendo o mesmo, ou até ligeiramente superior, que o mesmo modelo equipado com motorização 1.4 ou 1.6.
Dinheiro
Mudam-se os tempos, mudam-se os costumes. Num passado não muito distante, quem roncava grosso era comprador de carro zero que entrasse numa concessionária com o talão de cheque para pagar à vista. Tinha direito a tratamento vip com cafezinho, água gelada, tapete e protetor de cárter de cortesia, além de um bom desconto no preço de tabela.
Hoje, o vendedor sai correndo se o freguês ameaça pagar o carro integralmente, no cheque.
Fácil de explicar: as concessionárias atualmente são regiamente comissionadas pelas financeiras e companhias de seguro, e não fazem a menor questão de vender o carro à vista. E treinam exaustivamente seus vendedores para empurrar o máximo de financiamento nos clientes. Os juros e as taxas embutidas nas prestações são de extrema rentabilidade para as financeiras.
O resumo da ópera é que a concessionária acaba ganhando o mesmo (ou mais, dependendo da situação do mercado) com as comissões do que com a venda do carro zero. Por incrível que pareça, automóvel hoje custa mais caro se o freguês insistir em pagar à vista...
Outro lado da moeda
Num passado não muito distante, freguês de carro zero com talão de cheque na mão roncava grosso na concessionária. Hoje é o contrário...