Você não bebeu e teve uma noite regular de sono antes de pegar a estrada. Seu automóvel sempre recebeu manutenção adequada e os impostos estão em dia.
Mesmo assim, são grandes as chances de você se envolver num acidente provocado pela imprudência, teor alcoólico ou sonolência de outro motorista. Ou pela falta de manutenção adequada da rodovia.
O governo federal não tem dinheiro para implantar efetiva fiscalização do trânsito nem manutenção das estradas, pois as verbas são desviadas para saldar as contas dos cartões corporativos. Mas faz de conta que se preocupa com o assunto. Motorista alcoolizado provoca acidente? Então proíbe-se a venda de bebida na beira da estrada. Quem comete a infração é o gerente do supermercado e não o motorista que continua carregando impunemente a garrafa de cachaça na boléia do Scania.
E as crateras nas estradas? Alguma estatística aponta a falta de manutenção como causa do acidente? Não: o veículo sempre está na contramão por imprudência do motorista e jamais para se desviar da cratera no asfalto.
Quando um acidente rodoviário é provocado por condutor alcoolizado, a polícia registra a ocorrência para sua punição. Multa, pontos no prontuário, até prisão. Mas, quando a causa do acidente é falha da estrada, pode morrer uma família inteira que ninguém vai preso, nem o presidente da República nem o ministro dos Transportes.
Alfredo Peres da Silva, atual presidente do Contran, órgão responsável pela normatização da legislação e das diretrizes básicas do trânsito, vem fazendo o possível para estabelecer um mínimo de ordem no caos rodoviário. Às vezes dá umas escorregadas, como nos quebra-matos e engates bola: faltou-lhe coragem para proibir sua utilização, que ele substituiu por uma estapafúrdia e inócua “regulamentação” desses famigerados acessórios. Mas o balanço geral de sua administração é positiva.
A última decisão do Contran exige exame de sonolência dos motoristas profissionais. Teoricamente, a exigência é correta, pois as estatísticas internacionais apontam a "cochilada" ao volante como responsável por 20% a 30% dos acidentes de trânsito.
Mas na prática a teoria é outra, pois são testes sofisticados, do tipo pupilografia ou polissonografia. Com tratamentos caros, demorados e não disponíveis no sistema de saúde pública.
A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) diz que o país não está preparado para combater os distúrbios do sono. E que, assim como na trapalhada da proibição de bebida nas estradas, a resolução do Contran não prevê solução para determinadas situações. Exemplo: como resolver o problema do motorista com distúrbio do sono já que não poderá recorrer ao INSS para tratamento?
E, como sempre, a falta de fiscalização: o profissional não apresenta propensão à sonolência, mas é forçado pelo dono da empresa a varar noites dirigindo. A cochilada é inevitável.
A resolução do Contran relativa ao sono é oportuna, desde que não haja cochilos em sua aplicação.
O sono e a cochilada
Governo tenta encobrir sua ineficiência com canetadas mirabolantes. Agora é a vez da sonolência ao volante