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O nariz do presidente

Os utilitários-esportivos são considerados hoje os veículos que mais desrespeitam o meio ambiente, em termos de consumo e poluição

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A avenida defronte à fábrica da Porsche esteve especialmente movimentada no último dia de julho. Não por causa das centenas de trabalhadores que constroem um enorme prédio, que vai abrigar o museu da marca, mas pela manifestação do Greenpeace, que fantasiou um Cayenne (o utilitário-esportivo da marca) de porco e protestava contra os exagerados níveis de poluição do modelo.

A fábrica retrucava com faixas, nas quais explicava suas recentes ações ambientais. E, na semana seguinte, decidiu antecipar a divulgação sobre uma versão híbrida do Cayenne, que está desenvolvendo para lançar em 2009. O SUV manterá as características esportivas tradicionais da marca, mas terá uma redução de cerca de 25% nos níveis atuais de poluição.

A preocupação com o meio ambiente está presente em todos os projetos desenvolvidos pelas engenharias dos principais fabricantes de automóveis. Não só pela legislação, cada vez mais severa, mas pela demonstração de respeito com o meio ambiente.

A Toyota, marca que mais se identifica com imagem de carro limpo, graças ao seu híbrido Prius, está estendendo o conceito do automóvel, movido com motores a combustão e elétricos, aos novos esportivos. E a montadora já apresentou o protótipo FT-HS, uma supermáquina, para provar que as exigentes regulamentações que limitam os níveis de emissões de poluentes não inviabilizam os automóveis de alto desempenho. Seus motores a gasolina e elétricos desenvolvem 400cv de potência e o carro acelera de 0 a 100km/h em apenas quatro segundos. Desempenho de fazer inveja a muita Ferrari da vida.

Os utilitários-esportivos (SUVs), por serem grandes, pesados e exigirem motores grandes e beberrões, são considerados hoje os veículos que mais desrespeitam o meio ambiente, em termos de consumo e poluição.

O Greenpeace fantasiou o Porsche Cayenne de porco, pois classifica os SUVs de pig climates (porcos climáticos, em inglês). Como outras ONGs também não deixam por menos, os motoristas desses modelos já começam a se sentir culpados. Há um exagero mundial quando são responsabilizados os veículos com motor a combustão interna pela poluição do planeta. Sua participação nessa agressão ao meio ambiente é de apenas 25%, mas eles são os mais visíveis, com as fumaças de seus escapamentos registrando inequivocamente a sujeira que provocam.

No Brasil
Temos uma legislação moderna sobre os limites de poluição, que é respeitada pelas montadoras. Mas há dois entraves. Em primeiro lugar, a velha frota circulante, que desconhece os limites de emissões e circula impunemente pelas ruas, graças à omissão do governo em implantar a inspeção veicular. Outro problema é a qualidade do nosso combustível, principalmente a do diesel. Suas características impedem que as fábricas de motores consigam enquadrá-los na próxima etapa (ainda mais rigorosa) da nossa legislação. A Petrobras, por exemplo, alega que terá que investir (sem retorno) bilhões de dólares para que o nosso diesel seja mais limpo e sua combustão menos agressiva aos nossos pulmões.

Mais uma vez, ficamos na dependência de uma atuação objetiva do nosso governo. O problema é que, como sempre, o presidente não sabe de nada que acontece. Desta vez, literalmente sob o seu nariz...