Carro a álcool não é novidade. A bem da verdade, os primeiros automóveis com motor a combustão interna, fabricados no final do século 19, usavam álcool. A gasolina só apareceu no início do século passado, ao se perceber que sua produção, a partir do petróleo, era muito mais eficiente e barata do que o etanol, obtido a partir da beterraba.
Mas a necessidade de alternativas ao combustível fóssil puseram o álcool novamente na berlinda. E o Brasil foi um dos pioneiros do retorno, há quase 30 anos, com o Pro-álcool. Mal administrado, o programa fracassou e o etanol só voltou aos tanques quando a eletrônica possibilitou a criação do carro flex, há pouco mais de quatro anos.
Mas nós não somos únicos na tecnologia do motor flexível: diversos outros países já o produzem, e comercializam, automóveis que podem ser abastecidos com gasolina ou etanol. Nos EUA e na Europa, já existem diversas marcas que oferecem modelos flex, ou E-85. A sueca Saab foi uma das pioneiras. Mas hoje já existem automóveis franceses (Renault, PSA), alemães (Mercedes/Opel) e americanos com a mesma tecnologia.
Onde estamos à frente é no volume de produção e distribuição do álcool: em quase todo o país, ele é tão fácil de encontrar como a gasolina. Nos EUA, ele praticamente inexiste, pois é oferecido em cerca de apenas cem postos. A Suécia, muito menor, está um pouco mais à frente, com 500 postos. A França está iniciando a instalação este ano.
Entretanto, há uma diferença fundamental entre o nosso sistema flex e os desenvolvidos em outros países: enquanto o etanol oferecido nos postos brasileiros é puro (contém apenas cerca de 7% de água e, por isso, é chamado de hidratado), na Europa e nos EUA ele é denominado de E-85. A diferença está no percentual de 15% de gasolina, misturado ao álcool, para facilitar o início do funcionamento do motor nas manhãs mais frias. Ou seja, nos carros flex de outros países, não existe aquele abominável tanquinho com gasolina (ao lado do motor), que é injetada quando a temperatura ambiente se reduz. E, nas regiões onde o frio é para valer, o álcool já vem com o dobro do percentual, ou seja, 30% de gasolina.
Isso significa que os automóveis projetados na Europa e nos EUA para funcionar com qualquer dos dois combustíveis não podem ser importados para o Brasil, pois o sistema deles não é compatível com o nosso.
Qual é mais inteligente?
Cada país tem bons motivos para defender o seu sistema, mas o etanol, batizado com gasolina, leva uma enorme vantagem sobre o hidratado, ao dispensar o tanquinho, para a partida a frio. Um típico ?quebra-galho?, que aumenta o custo e os problemas do flex. Ele trinca e vaza. Ou entope. Ou a gasolina fica velha, de um inverno para o outro.
É claro que existe solução mais moderna. Mas os mesmos engenheiros que projetaram o sistema flex estão apanhando e ainda não conseguiram apresentar uma solução eficiente e barata.
Não seria mais prático adotar a mesma solução de todos os outros países? Ou somos tão mais inteligentes que o resto do mundo?
O Brasil contra o mundo
Estamos dando aula de como desenvolver motores flex. Mas o álcool de outros países é mais inteligente que o nosso