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Minas x Brasília

Quanto mais a modernidade conquista o mundo, mais o homem admira o passado e se curva diante dele

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ensibilidade: sobra em Minas, falta em Brasília.

O governo mineiro acaba de assinar um protocolo de intenções com a Fiat Automóveis e com o Veteran Car Club — MG para a construção de um museu do automóvel. No acordo tríplice, o governo cede o espaço que abrigava uma garagem da Polícia Militar, a Fiat investe para transformá-lo num espaço adequado aos carros antigos e o Veteran cuida do acervo e de sua manutenção. Será construído na Praça da Liberdade, ponto central de Belo Horizonte, e vai se incorporar ao maior e mais importante complexo cultural implantado no país, a partir da ocupação dos seculares prédios públicos desativados com a mudança do governo de Minas para a Cidade Administrativa, construída durante o governo de Aécio Neves.

Enquanto isso, outro museu do automóvel, já instalado e em pleno funcionamento em Brasília, está em vias de ser despejado de um prédio do governo federal. Motivo: transformar o espaço em arquivo morto da Rede Ferroviária. Como diz Roberto Nasser, seu curador, “papéis podem ser digitalizados, carros não”. Mais um exemplo infeliz da pouca importância que se dá no Brasil à preservação da própria história.

O automóvel cumpriu um papel importante no desenvolvimento econômico, nos hábitos e costumes da sociedade desde sua invenção, há 125 anos. Foi responsável pela transformação do conceito de mobilidade coletiva e individual. Ampliou os limites geográficos do homem ao substituir o cavalo e a carruagem. Foi muito além das suas funções de transporte para se transformar num símbolo de distinção, status e poder. Representa com legitimidade cada época vivida pelo mundo.

Além disso, há uma simbiose secular entre o automóvel e a ciência: a história da indústria automotiva é um retrato da evolução e da criatividade tecnológica da humanidade.

É inegável que, quanto mais a modernidade conquista o mundo, mais o homem admira o passado e se curva diante dele. E a paixão pelo antigo acaba virando coleção, inclusive a de automóveis. Antigomobilismo: um hobby que tem papel essencial na preservação desse símbolo da sociedade.

No Brasil, não fossem os colecionadores, não sobrariam (“nem para contar história”) vários dos automóveis autenticamente nacionais, como o Ford Corcel, Chevrolet Opala, e esportivos como o Brasinca Uirapuru, DKW Malzoni, Puma e outros.

Diz-se que o colecionador presta um inestimável serviço ao guardar, preservar e restaurar um automóvel antigo. Mas um desserviço ao mantê-lo em sua garagem particular, inacessível ao público. Daí a importância do museu, que vai desentocar relíquias das coleções particulares e exibi-las num local franqueado ao público e de forma ordenada, didática e segura.

Dois governadores de Minas (Aécio Neves e Antonio Anastasia) e a Fiat Automóveis deram mostra inequívoca de sensibilidade ao apoiar o projeto do museu. Um ótimo exemplo para autoridades e empresários de Brasília.