Agosto passou e levou com ele números do mercado de veículos no Brasil que precisam ser analisados com calma. Em relação à produção, foi o segundo melhor desempenho do ano, mas inferior na comparação com agosto de 2022. Nas vendas, houve queda significativa no mês em relação a julho, mas no acumulado de janeiro a agosto o crescimento de 9,4% na comparação com 2022 confirma o melhor resultado dos últimos quatro anos.
Trata-se de um mercado de veículos que ainda pisa em ovos para tentar retomar os bons números registrados antes da pandemia da COVID-19. A indústria automotiva não para de apresentar novos produtos, mas mantém os pátios cheios nas fábricas, acreditando em uma redução ainda maior nos juros para facilitar os financiamentos para os consumidores.
Estes, por outro lado, ficam à espera de um milagre no mercado de veículos, na expectativa de que, além da queda dos juros, haja também redução nos preços dos carros, algo improvável de acontecer. Os modelos na faixa de entrada custam algo em torno dos R$ 70 mil, e os demais pulam direto para acima de R$ 80 mil e passam fácil dos R$ 100 mil. Valores elevados para uma sociedade que tem em sua maioria pessoas de baixo poder aquisitivo.
O reflexo disso pode ser visto claramente nos números apresentados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) em relação ao mercado de veículos no Brasil referentes a agosto. A Anfavea comemorou o fato de ter sido o segundo melhor mês do ano em produção de veículos, e sem paralisação de fábricas.
No total, foram produzidas em agosto 227 mil unidades de autoveículos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus), contra 183 mil unidades em julho, um crescimento de 24%. O número de agosto só não foi melhor do que o de maio, quando foram produzidas 228 mil unidades. Mas na comparação com agosto do ano passado – 238 mil unidades produzidas – houve uma queda de 4,6%.
No acumulado de janeiro a agosto de 2023, houve queda de 0,4% na produção de autoveículos. Foram produzidas 1,549 milhão de unidades em 2022, contra 1,542 milhão em 2023.
Impacto nas vendas com o fim do bônus do governo
Com o fim do bônus oferecido pelo governo federal o resultado de queda nas vendas do mercado de veículos já era esperado. Foram vendidas cerca de 208 mil unidades em agosto, contra 226 mil em julho, representando uma queda de 7,9%. Mas, mesmo assim, foi o segundo melhor mês de 2023 em volume e média diária de vendas.
O fim dos incentivos fiscais influenciou diretamente nas vendas do segmento de hatches, que em julho teve uma participação de 28,6% no mercado de veículos, caindo para 22,7% em agosto. Já os SUVs subiram de 38% de participação para 40%. No segmento de caminhões houve um crescimento de 11,3% nas vendas em agosto comparado com o resultado de julho.
O volume das vendas de automóveis no mercado brasileiro registrou um recuo de 13,2% em agosto em relação a julho. Mas o segmento de comerciais leves cresceu 11,6% no mesmo período, com destaque para as caminhonetes.
A boa notícia é que no acumulado do ano, de janeiro a agosto, foram emplacadas 1, 432 milhão de unidades, contra 1,309 milhão em igual período de 2022, crescimento de 9,4%. O melhor resultado dos últimos quatro anos, mas ainda inferior aos números registrados antes da pandemia.
Nas exportações, o mercado de veículos no Brasil registrou apenas 35 mil unidades vendidas em agosto. Número baixo para um país que tem uma capacidade produtiva muito grande. Mas para a Anfavea o problema é que o Brasil está perdendo mercado na América Latina para os países asiáticos.
A China é o maior exportador de veículos do mundo, tendo passado de 4,6% de participação para 21,2% na última década. O Brasil ocupa a oitava posição no ranking dos maiores exportadores de veículos.
Os números apenas comprovam que ainda é preciso fazer muito para melhorar o desempenho do mercado de veículos no Brasil, tanto interna como externamente. Algumas fábricas ainda estão com capacidade ociosa, esperando ações do governo federal para incrementar a produção. Mas mesmo assim os lançamentos não param de pipocar, em uma demonstração clara de que, apesar dos preços elevados, ainda tem muita gente com dinheiro e disposição para investir em carro novo.
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