1º ato - São Paulo, a locomotiva do Brasil (...), deu uma baita descarrilada no início do ano, ao implantar a inspeção veicular de emissões. A vistoria teve início no ano passado somente para veículos movidos a diesel e foi estendida para todos os motores em 2009. Por que descarrilou? Melhorar o ar que se respira não é medida que vem ao encontro dos anseios da sociedade?
Viria, se a Prefeitura de São Paulo não tivesse estabelecido um critério idiota para determinar quais automóveis devem se submeter ao controle: em vez de convocar os modelos velhos, que poluem de fato, a decisão foi de obrigar veículos novos, fabricados entre 2003 e 2008, a serem vistoriados.
É isso mesmo: o dono de um automóvel novo em folha, produzido no fim de 2008, teve de levá-lo ao controle em fevereiro de 2009. A decisão foi tão estúpida que alguns motoristas entraram na Justiça contra a obrigatoriedade da vistoria e ganharam a causa. Por falta de ?razoabilidade? da medida, segundo o juiz.
A explicação dos técnicos da Prefeitura de São Paulo sobre o porquê do critério às avessas: ?É para educar o dono do automóvel a mantê-lo em boas condições desde novo?. Estava certo o filósofo alemão Goethe (em Arte e antiguidade): ?Não há nada mais terrível do que a ignorância ativa?.
2º ato - Em Brasília, o governo anunciou, este mês, que os técnicos do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) vão decidir, em outubro, se a inspeção de emissões será estendida para outras regiões metropolitanas.
Está na hora de cruzar os dedos e torcer para que os burocratas do Ministério do Meio Ambiente sejam minimamente iluminados pelos deuses e escapem da mesma enfermidade que obnubilou a capacidade de raciocínio dos paulistas.
Talvez, até mesmo estimulado pela decisão judicial que ponderou a ?irrazoabilidade? da decisão paulistana, o Conama tenha o bom senso de convocar, nas outras grandes metrópoles, o Chevette no lugar do novo Gol. A BMV (Brasília Muito Velha) no lugar da BMW.
3º ato - É inegável que o meio ambiente está na berlinda do mundo. E por isso todas as atitudes em defesa de um ar mais puro e de um céu com menos ozônio são sempre festejadas. Palmas, portanto, para o controle das emissões veiculares. Mas não custa lembrar que o Código do Trânsito Brasileiro, em vigor há quase 12 anos, prevê também a inspeção focada na segurança veicular, ainda não implantada. Ela é a única medida capaz de liberar nossas ruas das verdadeiras sucatas sobre rodas que ameaçam nossa integridade física e o fluxo do trânsito. Para isso, é necessário que o governo federal deixe de lado sua inépcia e desinteresse pelo assunto. Caso contrário, teremos automóveis circulando rigorosamente dentro dos padrões de emissões. Mas sem freios, com pneus carecas e luzes queimadas.
Inspeção em três atos
Ministério do Meio Ambiente quer estender para outras metrópoles a idiotice implantada em São Paulo. Goethe tinha razão...