Poucas vezes se viu tanta inabilidade de uma empresa para lidar com um problema como a Toyota do Brasil. Ela reagiu com arrogância e menosprezou as evidências e os acidentes com o Corolla que acelera sozinho.
Nenhuma fábrica de automóveis - um produto complexo e composto de milhares de componentes - escapa do recall. Até a Rolls-Royce teve recentemente que corrigir o sistema de aquecimento dos bancos que queimavam a bunda de seus ilustres passageiros.
Nem a mancada da Volkswagen com o Fox (que, às vezes, decepava o dedo de quem articulasse o banco traseiro) serviu de lição à Toyota. Os alemães negaram teimosamente o recall até que foram obrigados a fazê-lo pelo governo. Assim como os japoneses, na semana passada.
A fábrica que reconhece e corrige espontaneamente um erro ganha a confiança do cliente. A que o nega e só faz o recall depois de pressionada pelo governo, fica sob suspeita: Será que no futuro ela vai novamente se omitir? Que segurança terei ao comprar um modelo da marca?
A empresa que blefa perde muito mais do que se imagina. Nos EUA, a Toyota gastou cerca de dois bilhões de dólares com o recall de quase 10 milhões de automóveis. Foi pouco se comparado com seu valor de mercado, que despencou em mais de 20 bilhões de dólares.
No Brasil, o cerco começou com a proibição da venda do Corolla em Minas. A Toyota, petulante, em vez de entregar os pontos, ainda reagiu com uma liminar para derrubar a decisão. E só foi a nocaute depois de ser ameaçada, pelo governo, da proibição de comercializar o modelo em todo o país.
Interferência O prezado já acionou um celular próximo de uma balança (dessas de padaria) eletrônica? Ela fica doidinha e os números sobem e descem nos visores.
O Gol GTI lançado em 1988, primeiro modelo brasileiro com injeção eletrônica, tinha "alergia" a determinados locais, como a Avenida Paulista, em São Paulo. O sistema de injeção sofria interferência das ondas eletromagnéticas emitidas pelas numerosas antenas instaladas nos altos dos prédios. E o Gol quase parava...
Nos EUA, a Toyota fez dois recalls, um para o tapetinho e outro para o pedal do acelerador. Mas o Corolla continuou acelerando espontaneamente. Os japoneses ficaram desorientados e o governo americano pediu ajuda a engenheiros da Nasa, pois a suspeita é de que o problema esteja no sistema eletrônico. Não se descarta a hipótese de um fenômeno semelhante ao do Gol GTI.
No Brasil, a fábrica jura que o problema é no tapetinho, mas há casos comprovados de aceleração espontânea mesmo sem o malvado. E o que vai dizer a Dona Toyota se o Corolla continuar a acelerar sozinho depois do recall?
Inábil e arrogante
A fábrica que faz o recall espontaneamente ganha a confiança do cliente. A que blefa, como a Toyota, fica sob suspeita do mercado