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Dia da caça

Concessionárias e bancos procuram evitar a operação, mas refinanciamento do carro comprado a prazo reduz a dívida, pois os juros estão cada vez menores

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A novidade no mercado automobilístico é o refinanciamento. Você não vai ser informado dessa operação por banco algum ou instituição financeira, pois não é do interesse deles. Mas é do seu...

É assim: você comprou um automóvel há dois ou três anos com uma entrada e o saldo em 36 ou 48 prestações. Hoje, você ainda deve, digamos, metade das parcelas. Mas, enquanto isso, os juros de mercado baixaram consideravelmente. Então, a idéia é saber no banco qual seria o valor para quitar - à vista - o resto da dívida. É claro que o pagamento antecipado é menor do que a soma das prestações a vencer, pois deverão ser excluídos os juros do financiamento.

Mas, se você comprou o carro em prestações, é porque não tinha saldo bancário para comprá-lo à vista. Então, com que dinheiro saldar a dívida?
Simples: com um empréstimo numa outra instituição financeira. Como os juros estão mais baixos, ou vai sobrar dinheiro ou o valor das novas prestações será inferior ao das atuais. Deve ser a única operação de crédito em que o dinheiro acaba sobrando no seu bolso, e não no caixa do banco. É o dia da caça...

Exatamente por isso é que as concessionárias e financeiras resmungam e procuram criar obstáculos quando são procuradas para o refinanciamento.
Até porque, se você não sabe, a loja que vende hoje um carro pode ganhar mais na "comissão" que recebe da financeira do que na própria venda. Então, aqueles juros que você vai deixar de pagar já estavam contabilizados como lucro pela revenda e pela financeira.

As dificuldades armadas para fazer você desistir do refinanciamento começam pela "taxa" inventada pelos bancos para receber o pagamento antecipadamente. Eles carregam a mão para tentar inviabilizar o negócio, mas contrariam o código de Defesa do consumidor, que garante o direito de quitar as parcelas restantes sem juros.

Depois, outro obstáculo: o automóvel está alienado à primeira financeira, que só libera o documento depois de ter recebido o pagamento. Mas a segunda, que vai refinanciar o negócio, só libera o dinheiro se o carro já estiver desalienado...

Não faltam também os tradicionais picaretas que percebem, na operação, um jeitinho de ganhar seu "dim-dim": são agências de automóveis ou intermediários que procuram complicar o negócio alegando que o carro deve ser desalienado em nome de um terceiro e depois refinanciado novamente em nome do dono.

Mas a operação é legal, viável e pode ser realizada sem nenhuma malandragem ou picaretagem. Ela simplesmente proporciona ao dono do carro uma correção da dívida coerente com os juros praticados hoje pelo mercado.
Tanto isso é verdade que o Banco Central, atento ao problema, estabeleceu em setembro do ano passado a resolução 3401, que estabelece os critérios para a troca da instituição financeira responsável pela operação de crédito.