A leitora Luciana (nome real) leva seu Palio a uma concessionária em São Paulo para a revisão dos 30 mil quilômetros. E envia fax do orçamento ao jornal, pois o carro está em ordem e ela tem dúvida da real necessidade dos itens relacionados. Não é difícil concluir a desonestidade da empresa, pois mais da metade do valor pedido (de R$ 1.300) se refere a serviços desnecessários.
Volto ao tema da empurroterapia, pois ela vem se sofisticando e incorporando mais e mais itens inúteis.
O golpe é fácil, pois o dono do carro é obrigado a levá-lo à concessionária para a revisão gratuita, para não perder a garantia. Ou então, zeloso (como Luciana) que, decide continuar levando seu automóvel à autorizada mesmo, depois de vencido o prazo da garantia.
Quando a ?vítima? chega à oficina, os recepcionistas são cuidadosamente treinados (e regiamente comissionados, acredite...) para incluir, entre os serviços previstos pela montadora, vários outros desnecessários.
Mordida
Se o freguês contesta, está na hora da chantagem: "Já pensou - doutor - o carro parado na estrada durante uma viagem, a família preocupada em ser assaltada, as crianças chorando? O tempo perdido, o custo do reboque?"
Na verdade, o 'doutor' não percebeu que o assalto não é na estrada, é ali mesmo, ao autorizar os serviços desnecessários. Em vez de uma conta de R$ 250 pela troca do óleo, filtros e juntas, é mordido em mais de R$ 1 mil.
Aliás, as montadoras são igualmente canalhas, pois fecham os olhos para o golpe. A única corajosa e que faz constar no manual do proprietário que "a limpeza de bicos é desnecessária, pois são auto-limpantes", é a Ford. As outras são coniventes e a GM chegou a anunciar, numa promoção, preço especial para a "limpeza de bicos".
O golpe é tão rentável que a criatividade não pára. Agora, tem também a limpeza do "corpo da injeção", o reaperto da suspensão, a lubrificação das portas, a "higienização" do ar-condicionado, a limpeza dos sistemas de refrigeração, da direção hidráulica e outras. Algumas são até necessárias, mas jamais na freqüência imposta pela oficina.
A consultora técnica incluiu na revisão do Palio da Luciana, com o automóvel fora da oficina, a retífica do disco de freio. Só mesmo se ela for dotada de visão de raio x. E tome mais R$ 150 na conta.
O problema não é só em concessionárias: a maioria das oficinas independentes comprou a "máquina de limpeza de bico" e outros aparatos "técnicos" com a específica finalidade de faturar às custas da ignorância técnica do cliente.
Dentada
O golpe é o mesmo na hora da troca da correia dentada. Como a operação é obrigatória, em determinada quilometragem, as oficinas aproveitam para empurrar mais o esticador e o rolamento (desnecessários, em geral) e triplicam o custo do serviço.
Se você não tem certeza do que deve ser realmente feito na revisão, consulte o manual do proprietário. E recuse a empurroterapia. Se o recepcionista retrucar, peça para provar que o item consta das recomendações da montadora ou, melhor, chame a polícia.
Caso de polícia
Algumas concessionárias capricham na empurroterapia. Dono do carro é presa fácil e paga pelo serviço desnecessário