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Carro: meio de transporte sustentável ou de ostentação?

Nem todo consumidor que tem condições de comprar um carro zero está preocupado com a redução de emissão de poluentes, mas, sim, em mostrar poder e status

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Produzir carros que sejam eficientes, não poluentes e de baixo custo. Esse é o desafio para a indústria
Produzir carros que sejam eficientes, não poluentes e de baixo custo. Esse é o desafio para a indústria Foto: Produzir carros que sejam eficientes, não poluentes e de baixo custo. Esse é o desafio para a indústria

Somos uma sociedade consumista. Isso é fato! E já vem de longa data a constatação de que o carro se transformou em símbolo de status, de poder e de ostentação. Para muitos, o valor do cidadão está diretamente relacionado ao automóvel que ele tem estacionado na garagem. Muitos não pensam que ter um sistema de transporte público eficiente e barato seria a melhor solução para reduzirmos as emissões de poluentes e tornarmos os grandes centros urbanos lugares mais saudáveis para se viver.

Partindo do princípio que a indústria automotiva tem prazos estabelecidos para atingir a meta do carbono zero, em algumas partes do mundo o que se vê ainda são muitas indefinições, com apostas que nem sempre seguem na mesma direção. Enquanto alguns afirmam que a solução para se chegar aos melhores resultados de redução de emissões é o carro elétrico, outros preferem ser mais realistas ao afirmarem que mercados como o brasileiro terão, obrigatoriamente, que passar pela fase do sistema híbrido, antes de uma possível evolução.

E, ao que tudo indica, boa parte da indústria já entendeu que o segredo para a maior eficiência do sistema híbrido está no uso do etanol para alimentar o motor à combustão que vai atuar junto com o elétrico. É o combustível mais limpo – desde a produção até a queima –, capaz de se equiparar em números com os resultados apresentados pelo carro elétrico em termos de emissões, considerando toda a cadeia produtiva.

Etanol pode ser a grande solução para o carro híbrido

Algumas marcas têm declarado suas apostas no sistema híbrido flex, ou seja, aquele que permite o uso do etanol como combustível mais limpo para se chegar às metas do carbono zero. É o caso da Toyota, que lançou o primeiro sistema híbrido flex, e agora, mais recentemente, o grupo Stellantis, que declarou o desenvolvimento de tecnologias que têm como base o uso do etanol como principal fonte de energia limpa.

Acompanhando essas movimentações, podemos ser induzidos a acreditar que, em futuro próximo, talvez em 2030 ou, no mais tardar, em 2040, teremos uma frota de veículos menos agressiva ao meio ambiente. Mas a realidade de hoje aponta para um caminho contrário, pois o cidadão que tem posses, geralmente, não pensa no coletivo e acaba buscando o carro que vai demonstrar o seu poder e seu status. E não importa se ele é à combustão ou eletrificado.

Prova disso é que os modelos de maior valor agregado têm volumes de vendas cada vez maiores. Os SUVs e picapes estão entre eles. O grupo Stellantis somará 43 lançamentos no período de 2021 a 2025 na América do Sul. Desse total, 17 são SUVs e oito são picapes. Certamente, não serão modelos com preços "populares". Longe disso. Alguns eletrificados e outros não, indicando que nos países “emergentes” ainda há um longo caminho a ser percorrido.

O CEO do grupo Stellantis na América do Sul, Antonio Filosa, foi claro ao afirmar que ainda não é o foco desenvolver um carro compacto híbrido ou até elétrico, de baixo custo, para ser produzido em grande volume. A indústria tem preferido direcionar seus esforços nos modelos mais caros, de maior valor agregado, pois é isso que boa parte dos consumidores tem pedido. E é com esses modelos que os fabricantes aumentam suas margens de lucro. Afinal, ninguém está no mercado para fazer gracinha.

Frota envelhecida sem ameaças da inspeção veicular

Mas, enquanto isso, as frotas de carros em países como o Brasil e Argentina vão envelhecendo a passos largos, contribuindo cada vez mais para aumentar os índices de poluição. E o cidadão de baixa renda que não tem condições de comprar um carro zero, que é muito caro, se vê obrigado a adquirir veículos que certamente não passariam por uma inspeção veicular.

Isso poderia ser evitado se tivéssemos em nosso país sistemas de transporte público eficientes, preferencialmente por trilhos, abaixo do nível das ruas, para que a frota poluente se torne desnecessária e seja levada ao seu destino final. E se é para ter carro particular, que ele seja compacto, eficiente e de custo baixo, pois os grandes centros urbanos já não comportam mais os modelos de dimensões avantajadas que ocupam muito espaço e poluem sem dó.

O carro precisa ser visto como um meio de transporte e não de ostentação. É preciso pensar no coletivo e nossa contribuição para um mundo melhor, com menos desigualdade e bem-estar de todos passa também pela escolha do carro que vamos estacionar em nossas garagens. Modelos que não poluam o meio ambiente, que não usam couro animal ou que não tenham sua produção atrelada à exploração de mão de obra barata devem ser os preferidos daqueles que podem ditar os rumos que a indústria automotiva tomará em futuro próximo: você, consumidor.

O VRUM testou o Toyota Corolla Cross Hybrid, um dos primeiros com sistema híbrido flex. Confira!

https://youtu.be/VNLZqddreiU

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