Ampliar o rodízio para dois dias. Essa foi uma das "brilhantes" idéias da Prefeitura de São Paulo para tentar reduzir o caos instalado na cidade. É a prova comprovada da incompetência dos administradores públicos, que só resolvem problemas na base da canetada. Nenhum planejamento viário, nenhum projeto específico. Vias expressas ou uma rede eficiente de metrô? Perdão: o senhor se refere a Barcelona ou Berlim?
E o pior: a solução "paulista" do rodízio já foi ventilada por prefeituras de outras cidades. É a paixão pela canetada. Fora as controvérsias em relação à sua legalidade. Pois motoristas de outras cidades não são informados adequadamente das datas, finais de placa nem das ruas e avenidas onde é proibido transitar. Mas não deixa de ser multado.
É assim que funciona: se há carros demais, sapeca-se uma canetada e estabelece-se o rodízio, proibindo 20% da frota de circular. Voltou o excesso de veículos nas ruas? Pega-se a caneta e dobra-se o rodízio. Ou seja, 40% deles na garagem.
Como os índices de crescimento da frota não param de subir, logo logo vai haver outra canetada para tirar mais 20% e depois mais 20%, até proibir a circulação de todos os automóveis. Sonho do prefeito: todos os motoristas a pé ou de bicicleta e estão resolvidos os quilométricos engarrafamentos, o consumo de combustível, a poluição...
As pesquisas indicam que a população aprova a idéia de dobrar o rodízio. Claro, pois ela foi ameaçada com outra alternativa, a do pedágio para circular no Centro da cidade. Uma solução que mexe ainda mais com o bolso do motorista. É adotada em Londres, Turim e outras cidades com administradores mais competentes.
A verdade é que ampliar o rodízio não muda nada para quem possui vários automóveis. Rico tem Mercedes e BMW com placas de finais distintos. Remediado tem Corsa e BMV (Brasilia Muito Velha) para driblar a proibição. É mais barato que pagar uma taxa para circular.
O pedágio arrecada, mas as multas aplicadas no rodízio, também. E não exige competência nem investimento para ser implantado. Basta a canetada.
Mas vem a pergunta: é justo cobrar pedágio do cidadão que precisa dirigir seu carro diariamente para o Centro da cidade, pois é lá que trabalha?
É claro que não: cobrança de pedágio significa a existência de transporte de massa ou coletivo.
Na década de 70, foi planejada para São Paulo uma rede de 400 quilômetros de metrô, que estaria operando até o final da década de 1980. Só foram construídos 60 quilômetros até hoje.
Querem eliminar 20% da frota circulante? Basta implantar a inspeção veicular (prevista há 10 anos pelo código do trânsito) que milhões de automóveis caindo aos pedaços, inseguros e poluentes vão para o ferro-velho. Mas é outra solução que dá trabalho.
A esta altura, algum político já deve estar bolando a canetada do século: proibem-se as montadoras de fabricar automóveis e eles deixam de inundar as ruas e provocar todo esse caos no trânsito.
Canetada do século
É fácil resolver o problema do trânsito caótico de uma cidade sem planejamento viário nem projetos específicos: basta uma canetada do prefeito