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Atualização na marra

É mais barato lançar um novo modelo do que adequar o obsoleto à nova legislação de segurança

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Daqui a quatro anos vai ocorrer um fato inédito no mercado brasileiro de automóveis: a legislação vai obrigar fabricantes a deixarem de produzir modelos obsoletos como a Kombi ou o Uno Mille.

Está enganado o leitor que imagina ter sido aprovada alguma lei que proíba a comercialização de automóveis com projetos muito antigos. Alguma coisa como "fica proibida, a partir de 2014, a venda em todo o território nacional de veículos há mais de 20 anos no mercado".

Até porque, os fabricantes, danados de espertos, bolariam mais algumas plásticas para "rejuvenescer" os automóveis que já deveriam estar em museus. O que não lhes falta é um afiado bisturi...

Mas a lei é outra e desfere um golpe mortal contra os velhinhos de maneira indireta: é a legislação sobre a obrigatoriedade de equipamentos de segurança e de proteção mínima aos passageiros.

Automóvel para ser comercializado no Brasil terá de oferecer, por exemplo, as bolsas infláveis e sistema de freios com ABS. Além de resistir a testes de impacto, protegendo minimamente motorista e passageiros.

O problema é que instalar um equipamento de segurança, como airbag, envolve projetos complexos que interferem em vários componentes do automóvel. Não é como um aparelho de som que basta, para ser instalado, aparafusar uma antena e alto-falantes.

Resistir a um crash-test obriga a engenharia da fábrica a modificar toda a carroceria do automóvel.

Então, o investimento para adequar um modelo obsoleto à nova legislação de segurança é tão elevado que vale mais a pena desativar o velhinho e desenvolver um projeto completamente novo.

Lobby Por falar em segurança, a legislação brasileira, como sempre, segue caminhos tortuosos. A lei que obriga a presença do airbag em todos os automóveis a partir de 2014 não era necessária e só foi aprovada em função do lobby do setor.

Por que desnecessária? Porque já existia uma legislação mais ampla, exigindo uma proteção mínima a motorista e passageiros. Ou seja, para se enquadrar dentro da lei que já existia, as fábricas de automóveis teriam que instalar airbags, fossem obrigatórios ou não...

Então, qual é o mal de exigir as bolsas infláveis?

Simples: é uma lei que inibe o desenvolvimento de novos equipamentos, mais práticos, simples e baratos, para proteger os passageiros.

Já existe, por exemplo, um cinto de segurança sofisticado que contém em seu interior uma espécie de airbag. Digamos que, num futuro próximo, ele venha a substituir a bolsa. Mas, no Brasil, a novidade seria impossível, pois não estaria de acordo com a legislação do airbag. Até que se mudasse a lei específica, e aí começaria tudo de novo...