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Renault Kwid mostra bom fôlego na cidade, mas na estrada o comportamento é assustador

Confira todos os detalhes deste hatch compacto, um dos principais lançamentos do ano. Testamos a versão topo de linha, que custa R$ 40 mil e tem concorrentes cascudos

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Renault Kwid mostra bom fôlego na cidade, mas na estrada o comportamento é assustador
Renault Kwid mostra bom fôlego na cidade, mas na estrada o comportamento é assustador Foto: Renault Kwid mostra bom fôlego na cidade, mas na estrada o comportamento é assustador


O Renault Kwid é um veículo desenvolvido inicialmente para a Índia, além de outros mercados emergentes como o nosso. Com o projeto assinado por um cara chamado Gerard Detourbet – nada menos que o pai da primeira geração do Logan, sedã que foi tão bem-sucedido que o credenciou a uma segunda geração menos espartana –, há de se dar credibilidade e esperar que o modelo traga boas soluções para um veículo de baixo custo. Na fase em que ainda era um projeto, o Kwid era aguardado apenas como o sucessor do Clio. Porém, a partir do momento que a marca revelou seu preço de entrada, pornográficos R$ 30 mil, o pequeno passou a ser cultuado e aguardado por pessoas que pagaram R$ 1 mil na pré-venda sem ao menos vê-lo de perto.


Até então, só era possível comprar por esse valor o Chery QQ, pertencente a uma marca pouco sólida em nosso mercado e com uma pequena rede de concessionárias, sem falar de toda a desconfiança que se tem com os carros chineses. A marca quer chamá-lo de SUV, já que uma regra maluca credencia a esse título veículos com altura elevada do solo e determinados ângulos de ataque e saída. Enfim, tais características só fazem ajudar o motorista a driblar as várias armadilhas urbanas armadas pelas ruas brasileiras. Depois, se você comprar um Kwid, o carro é seu e você pode chamá-lo do que quiser. Só saiba que seu vizinho não acha que você tem um SUV na garagem.


Recebemos para teste a versão topo de linha Intense, que resvala nos R$ 40 mil, faixa de preço em que o modelo já encontra adversários cascudos. Como o conjunto mecânico é único para todas as versões, nossa experiência ao volante já vale para quem está pensando em comprar qualquer uma delas. Trata-se do mesmo motor 1.0 de três cilindros que equipa o restante da linha Renault (Sandero e Logan), porém com simplificações que o deixam mais barato e menos sofisticado. A principal delas é que, no caso do Kwid, o duplo comando de válvulas não é variável, o que compromete seu desempenho em diferentes regimes de rotação. Já a herança maldita da família de motores SCe é o pouco prático tanquinho de partida a frio.

Apesar do excesso de plástico, acabamento interno mostra certo capricho


RODANDO Na prática, o conjunto mecânico do Kwid oferece bom desempenho na cidade, mérito principal do peso reduzido, 786 quilos na versão mais equipada. Em trechos planos é possível “levar” o pequeno com baixas rotações. O desempenho não é muito afetado pelo funcionamento do ar-condicionado. Já com o carro carregado, o desempenho fica comprometido, sendo necessário deixar os giros nas alturas. Como qualquer 1.0, em subidas íngremes também é preciso usar marchas reduzidas, segunda e até primeira. Até sem esforço, o consumo de combustível é baixo. O motor é ruidoso.

Porta-malas tem volume de 290 litros


Se na cidade o carrinho deixa pouco a desejar, na estrada a história é diferente. Retomadas e ultrapassagens são lentas e graduais. Também não há muito fôlego para manter um bom desempenho em longos aclives, obrigando o motorista a reduzir marchas e rodar em altas rotações. Mas o pior foi o comportamento dinâmico do veículo em velocidades altas, acima dos 110km/h, quando volante e pedais começam a trepidar e perde-se a confiança no veículo.

Com o encosto do banco traseiro rebatido é possível carregar volumes maiores


Já as suspensões passam confiança nas curvas, até nas mais fechadas, além de darem conforto aos passageiros quando em superfície irregular. O rangido das molas sempre que alguém adentra ao veículo passa a sensação de fragilidade. A direção tem assistência elétrica, que oferece bom peso para cada situação, leve nas manobras e mais pesada em alta velocidade. A direção fica devendo quanto ao chamado "efeito retorno", aquele retorno do volante à posição central. Os engates da alavanca de câmbio carecem de mais precisão e o freio emite um chiado quando acionado.

Banco traseiro acomoda bem apenas dois passageiros


A BORDO O espaço interno é típico de um compacto de entrada, onde os passageiros da frente não podem se esticar muito para que os de trás tenham o mínimo de conforto. O banco traseiro só acomoda bem dois ocupantes. As janelas, manejadas por manivelas, não abrem por completo. O porta-malas está na média dos concorrentes, com espaço razoável para um compacto urbano, e ainda abriga o estepe. O encosto do banco traseiro pode ser rebatido para carregar um volume maior de carga. Como o bagagito não fica bem fixado, sua vibração é fonte de ruído. O interior do Kwid guarda uma relíquia, um autêntico pino que trava as portas do veículo.

Pino da trava da porta é detalhe retrô


O acabamento leva muito plástico, de bom aspecto, e ainda há um certo capricho esboçado nas colunas internas revestidas e no porta-malas todo acarpetado. A versão de topo tem acabamentos em preto brilhante, maçanetas dianteiras cromadas e apliques plásticos em bege nas portas. O senão fica por conta do tecido do teto, de toque ruim e aspecto grosseiro, as molduras da tela do sistema multimídia e dos difusores de ar, que trazem uma faixa bege com pintura irregular, e um acabamento da porta que estava soltando. Os bancos são em tecido, com as bordas em couro sintético de duas cores. As portas traseiras da unidade testada estavam bastante desalinhadas.

Acabamento do painel de porta se soltando


SEGURANÇA Quanto ao conteúdo, a cereja do bolo no Kwid são os airbags laterais, raros até em modelos mais sofisticado. Junto com os reforços estruturais adotados em relação ao projeto indiano, estas são respostas da Renault para os péssimos resultados apresentados pelo modelo nos testes de colisão do Global NCAP. Mas, como falar é fácil, todos esperam por uma boa performance nos testes do Latin NCAP. Esta versão Intense é bem equipada, com sistema multimídia, vidros elétricos dianteiros, ajuste elétrico dos retrovisores, faróis de neblina, chave canivete com botão que abre o porta-malas, ar-condicionado, câmera de ré. Neste segmento de entrada, até itens como conta-giros e computador de bordo devem ser comemorados. Mas faltam coisas importantes, como ajustes de altura do banco do motorista e do volante. Uma coisa chata no manuseio do veículo é que as portas não destravam automaticamente quando a ignição é desligada.

Portas traseiras estavam bastante desalinhadas


CONCORRENTES Entre os concorrentes, o que tem dimensões mais parecidas com o Kwid é o Volkswagen up!, que na versão de entrada Take, com preço semelhante, se destaca pela ausência de equipamentos: nem conta-giros ele tem! Em compensação, o compacto da marca alemã tem nota máxima em segurança, que tem seu preço. Já o Fiat Mobi, na versão intermediária Like, é tão equipada quando o pequeno da Renault. Suas desvantagens são o espaço interno e o motor 1.0 de quatro cilindros ultrapassado. O Nissan March, na versão de entrada Conforto, também tem bom pacote de equipamentos, mas não demora para trocar de geração. O campeão de vendas Chevrolet Onix só tem preço semelhante na versão Joy, com design antigo, mas com nível semelhante de equipamentos. Também oferecem pacote parecido o Ford Ka SE e o Hyundai HB20 Comfort, versões de entrada com preços um pouco acima do Kwid testado.


Central multimídia tem tela de 7 polegadas

CONECTIVIDADE
Pelo menos por enquanto, a versão Intense traz o pacote Connect sem acréscimo no preço, que inclui a central multimídia Media Nav 2.0. O sistema funciona a partir de uma tela tátil de sete polegadas, muito fácil de ser operado. O destaque é a navegação por GPS, além de telefonia e câmera de ré. As mídias disponíveis são rádio, Bluetooth (com streaming), entrada USB e auxiliar.

Apesar de novo, motor manteve tanquinho de partida a frio


FICHA TÉCNICA

MOTOR
Dianteiro, transversal, três cilindros em linha, 12V, 999cm³ de cilindrada, que desenvolve potências de 66cv (gasolina) e 70cv (etanol) a 5.500rpm e torques de 9,4kgfm (g) e 9,8kgfm (e) a 4.250rpm

TRANSMISSÃO
Tração dianteira, com câmbio manual de cinco marchas

SUSPENSÃO/RODAS/PNEUS
Dianteira, independente do tipo McPherson, com triângulos inferiores; e traseira de eixo rígido / 14 polegadas em aço / 175/70 R14

DIREÇÃO
Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência elétrica

FREIOS
A disco na dianteira e tambor na traseira, com ABS

CAPACIDADES
Do tanque, 38 litros; e de carga útil (passageiros mais bagagem), 375 quilos

Calota especial faz roda parecer de liga leve


EQUIPAMENTOS

DE SÉRIE
Airbags frontais e laterais; freios ABS; Isofix; travamento automático das portas quando o veículo está em movimento; faróis de neblina; ar-condicionado; direção elétrica; vidros dianteiros elétricos; computador de bordo; abertura interna do porta-malas; ajuste elétrico dos retrovisores; limpador e desembaçador do vidro traseiro; chave canivete; rodas de aço de 14 polegadas e calotas; central multimídia com GPS e câmera de ré.

OPCIONAL
Pintura metálica.


QUANTO CUSTA
O Renault Kwid 1.0 Intense custa R$ 39.990. Com pintura metálica, por R$ 1.400, o preço da unidade testada sobe para R$ 41.390.


Notas (0 a 10)
Desempenho 6
Espaço interno 7
Porta-malas 7
Suspensão/direção 8
Conforto/ergonomia 6
Itens de série/opcionais 7
Segurança 8
Estilo 8
Consumo 9
Tecnologia 7
Acabamento 7
Custo/benefício 8


RENAULT KWID 1.0 x CONCORRENTES

RENAULT KWID 1.0 INTENSE x FIAT MOBI 1.0 LIKE x VOLKSWAGEN UP! 1.0 TAKE x NISSAN MARCH 1.0 CONFORTO x FORD KA 1.0 SE x CHEVROLET ONIX 1.0 JOY x HYUNDAI HB20 1.0 COMFORT

Potência (cv) 66 (g)/70 (e) 73 (g)/75 (e) 75 (g)/82 (e) 77 (g/e) 80 (g)/85 (e) 78 (g)/80 (e) 75 (g)/80 (e)
Torque (kgfm) 9,4 (g)/ 9,8 (e) 9,5 (g)/9,9 (e) 9,7 (g)/10,4 (e) 10 (g/e) 10,2 (g)/10,7 (e) 9,5 (g)/9,8 (e) 9,4 (g)/10,2 (e)
Dimensões (A x B x C) (m) (*) 3,68x1,58x1,47x2,42 3,57x1,63x1,50x2,30 3,60x1,65x1,50x2,42 3,83x1,67x1,53x2,45 3,88x1,69x1,52x2,49 3,93x1,70x1,47x2,53 3,92x1,68x1,47x2,50
Peso (kg) 786 945 910 950 1.007 1.011 990
Porta-malas (litros) (**) 290 215 285 265 257 289 300
Velocidade máxima (km/h) (**) ND 151 (e) 163 (g)/165 (e) 154 (g/e) ND ND ND
Aceleração até 100km/h (s) (**) 15,5 (g)/14,7 (e) 14,6 (g) e 13,8 (a) 12,6 (g)/12,4 (e) 15 (e) ND ND ND
Consumo cidade (km/l) (***) 14,9 (g)/10,3 (e) 11,9 (g)/8,4 (a) 14,2 (g)/9,6 (e) 12,9 (g)/8,8 (e) 13,5 (g)/9,2 (e) 12,9 (g)/9,1 (e) 12,5 (g)/8,5 (e)
Consumo estrada (km/l) (***) 15,6 (g)/10,8 (e) 13,2 (g)/9,2 (a) 15,3 (g)/10,6 (e) 15,1 (g)/10,3 (e) 15,7 (g)/10,8 (e) 15,3 (g)/10,8 (e) 14,1 (g)/9,9 (e)
Preço (R$) 39.990 39.78 37.990 39.990 44.290 41.690 43.000

(*) A: comprimento; B: largura; C: altura; e D: entre-eixos
(**) Dados dos fabricantes
(***) Dados do Inmetro
(g) gasolina; (e) etanol
ND: Não disponível