Mesmo entre os modelos de entrada, atualmente a Volkswagen é a única fabricante que vende veículos de duas portas, casos do up! e do Gol. Para relatar a experiência de uso de um carro “pé de boi”, com poucos acessórios, testamos o Gol 1.0 na versão de entrada Trendline de duas portas, com preço inicial de R$ 35.960. Além de frotistas, esta seria uma opção de veículo para alguém que procura por um carro novo e relativamente barato, mas que seja de uma marca tradicional, com uma boa rede de manutenção, em vez de se “aventurar” com modelos da mesma faixa de preço, porém mais equipados e com uma rede pequena.
Os primeiros contatos com o veículo já são “chocantes”. Para destravar a porta é preciso usar a chave mesmo, em vez de usar o controle remoto, que além de prático é mais seguro, já que você fica menos tempo na rua. O porta-malas também não tem maçaneta, e só pode ser aberto com a chave, tornando obrigatório desligar o carro e retirá-la sempre que for necessário acessar o compartimento quando o carro já está em uso. O segundo choque é quando o motorista assenta no banco, que é baixo e desconfortável, o que pode ser amenizado pelo ajuste de altura do assento, que atualmente é item de série, mas que no caso do Gol é daquele tipo ruim que quando é regulado para cima, vai também para frente. E quando é ajustado para baixo, vai também para trás. A regulagem dos retrovisores externos também é manual.
A coisa melhora quando você olha para o belo painel que o modelo ganhou na última reestilização, lançada no início do ano. O acabamento é condizente com sua proposta econômica, usando muito plástico, o que é amenizado com o emprego de tecido nos painéis das portas. Já a montagem é frágil. A unidade testada estava com acabamentos do banco do passageiro e da alavanca do freio de estacionamento soltando. Se o novo painel agradou a todos, o mesmo não se pode dizer das linhas do segundo facelift dessa terceira geração do Gol, que não agradaram a todos, como a do Gol G5, de 2008, que foi uma unanimidade.
DUAS PORTAS O manejo de um veículo de duas portas é bastante diferente para quem já se acostumou com a praticidade de um com quatro portas. E os bancos da frente do Gol não ajudam em nada, já que seu rebatimento obriga a fazer dois movimentos: primeiro chegar o assento para frente (o que exige esforço e não é nada ergonômico) e depois rebater o encosto. Alguns veículos de duas portas já trouxeram bancos dianteiros que facilitavam seu rebatimento, onde bastava um movimento para mover o assento e o encosto. No caso do Gol, mesmo rebatendo o banco, o espaço para entrar e sair é pequeno, exigindo esforço do passageiro, principalmente para aqueles que têm mobilidade reduzida. Um carro de duas portas também não é uma boa pedida para quem tem crianças novas, já que instalar os assentos infantis e prender os pequenos ali pode arruinar sua coluna vertebral. Outro aspecto a se pensar antes de comprar um veículo de duas portas é que seu valor de revenda reduz bastante, já que ele perde liquidez.
RODANDO O motor 1.0 de três cilindros casa bem com a proposta urbana do Gol. Com um ou dois ocupantes e um relevo suave, o compacto desenvolve com facilidade. Mas para fazer ultrapassagens e retomadas é necessário subir o giro. Quando o carro está pesado ou em aclives acentuados, o motor exige o uso das primeiras marchas e rotações mais elevadas. O câmbio de cinco marchas tem as duas primeiras mais reduzidas e as demais para desenvolver o veículo. Os engates são curtos e precisos. As suspensões garantem boa estabilidade e são um pouco mais duras.
CONTEÚDO Uma olhada no pacote de itens de série do modelo também revela que ele não é tão “pé de boi” assim. Além de airbags frontais e freios ABS, que são obrigatórios, alguns itens se destacam: direção hidráulica, vidros elétricos tipo “um toque” e limpador e desembaçador do vidro traseiro. O painel de instrumentos traz conta-giros, item essencial que é omitido na versão de entrada do up.! Mas alguns itens ficaram de fora, como o computador de bordo e a segurança básica do banco traseiro, que são o apoio de cabeça e o cinto de segurança de três pontos para o passageiro central.
A unidade testada tinha opcionais que não condizem muito com a realidade de uma pessoa que está comprando um carro de duas portas para economizar os R$ 1.990 cobrados pelas portas traseiras. É o caso da pintura metálica, por R$ 1.410, e o sistema multimídia, que custa R$ 1.892, num pacote que ainda traz o suporte para celular e os alto-falantes. O carro avaliado também estava equipado com ar-condicionado, por mais R$ 2.940, que sempre avaliamos como um item essencial de conforto, mas também de segurança, por permitir rodar em locais perigosos com os vidros fechados.
FICHA TÉCNICA
» MOTOR
Dianteiro, transversal, de três cilindros em linha, 999cm³ de cilindrada, 12 válvulas, com potências máximas de 75cv (gasolina) e 82cv (etanol) a 6.250rpm e torques de 9,7kgfm (g) e 10,4kgfm (e) de 3.000rpm a 3.800rpm
» TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio manual de cinco marchas
» SUSPENSÃO/RODAS/PNEUS
Dianteira, independente, McPherson e barra estabilizadora; traseira, interdependente; 5x14 em aço; 175/70 R14
» DIREÇÃO
Tipo pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
» FREIOS
Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
» CAPACIDADES
Peso, 901kg; porta-malas, 285 litros;
tanque, 55 litros; de carga (passageiros e bagagem), 509kg
» DIMENSÕES
3,90m de comprimento, 1,65m de largura, 1,46m de altura e 2,46m de entre-eixos
» DESEMPENHO
Velocidade máxima, 168km/h (g) e 170km/l (e); Aceleração até 100 km/h, 12,6 segundos (g) e 12,3 segundos (e
» CONSUMO
Cidade, 12,9km/l (g) e 8,8km/l (e); estrada, 14,5km/l (g)/10,5km/l (e)